Eugenia: a origem da teoria racista e o movimento no Brasil
Imagem: Creative Commons/Wikipedia
A teoria da eugenia surge em 1883 e foi criada por Francis Galton. Ele se dedicava aos estudos da hereditariedade e a transmissão de características que era utilizada com espécies de plantas e animais, baseando-se no conceito de seleção natural de Charles Darwin, mas ampliando isso para os seres humanos.
Sua ideia consistia em reproduzir exemplares "melhores" dos seres humanos. Para isso, era preciso encontrar uma maneira de quantificar essa hereditariedade para assim controlá-la. Galton desejava comprovar que a capacidade intelectual passava entre os membros da família para então justificar a exclusão dos negros, deficientes e imigrantes asiáticos.
Até a virada de séculos, as ideias de Galton se espalhavam pelo mundo e conquistou os Estados Unidos porque na época as pessoas estavam aterrorizadas por conviverem com problemas sociais urbanos, como crime, prostituição, alcoolismo e pobreza.
Isso se deve ao fato de que desde a Revolução Industrial em meados do século 19, os imigrantes estavam chegando nas cidades em busca de trabalho. Dessa forma, as teorias eugênicas foram utilizadas para explicar a situação, propagando preconceitos entre diferentes grupos sociais.
Tanto que por volta de 1920 era legal esterilizar pessoas em alguns estados dos EUA, até mesmo sem o consentimento. Dez anos depois a esterilização disparou. Números indicam que entre 60 a 70 mil pessoas passaram por esse processo. E em estados como a Virginia era permitido até 1979.
Eugenia no Brasil
Por aqui as primeiras publicações sobre este tema surgiram logo após a abolição da escravidão. Nesse sentido, Renato Kehl, vendo o movimento da população negra, criou a Sociedade Eugênica de São Paulo em 1918.
Médicos, escritores, jornalistas e políticos viram na teoria eugênica a solução para o desenvolvimento do Brasil. Problemas como pobreza e saneamento básico poderiam ser resolvidos ao "purificar" a raça, colocando mais pessoas brancas no lugar das negras.
As políticas eugenistas se fizeram presentes nas escolas não só ensinando sobre estas teorias para os alunos, como também com o embraquecimento dos professores.
Com a ideia de se construir uma nação melhor, se retirou crianças de orfanato para servirem de escravas como mostra o documentário Menino 23: Infâncias perdidas no Brasil. "Racismo puro para fundamentar a exploração do trabalho com discurso de saneamento social, de saúde pública", completa Sidney Aguilar Filho, professor e historiador responsável pela pesquisa que gerou o documentário.
1° Um professor de História, em uma escola no Rio de Janeiro, foi dar aula sobre nazismo. Ele mostrou para seus alunos a suástica e disse que aquele era o símbolo dos nazistas. Uma aluna levantou a mão e disse que já viu no sítio da sua família um tijolo com aquele mesmo símbolo. pic.twitter.com/DSdjaVHJG0
— História No Paint (@HistoriaNoPaint) December 4, 2019
Contudo, existia duas correntes eugênicas no mundo: a primeira, muito presente nos Estados Unidos e na Alemanha, acreditava na inferioridade biológica que era impossível de se transpor enquanto que a segunda se tratava de uma questão cultural que poderia ser resolvida através do branqueamento da população, que é o que foi adotado no Brasil.
Segundo a mestre em História das Ciências e da Saúde, Thayná Soares de Almeida Vieira, no Brasil só não teve o controle de quem poderia casar e consequentemente reproduzir na constituinte de 1934 por conta da força da Igreja Católica. "Tentou-se colocar o exame pré-nupcial obrigatório. Era algo amplamente discutido.", comenta.
Intelectuais e eugenia
É importante ressaltar que diversos nomes importantes que faziam parte da intelectualidade brasileira apoiaram o movimento eugenista.
Um dos mais conhecidos era Monteiro Lobato, que chegou a escrever o livro O Presidente Negro, uma obra que representa a síntese do pensamento racista da época, e patrocinou e auxiliou na distribuição das publicações do movimento em 1919.
Além de Lobato, Euclides da Cunha, autor de Os Sertões, colocava em suas obras a visão eugenista. O político Arthur Neiva; o diretor do Museu Nacional, João Batista de Lacerda; Raimundo Nina Rodrigues, médico que dá nome ao IML de Salvador e o jornalista e proprietário do jornal O Estado de São Paulo, Júlio de Mesquita Filho são alguns deles.
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Fontes:
FERRARI, Wallacy. Eugenia no Brasil: como a ciência foi usada para justificar o racismo. In: Aventuras na História. Disponível em: <https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/eugenia-no-brasil-como-ciencia-foi-usada-para-justificar-o-racismo.phtml>. Publicado em: 10 jun. 2020.
FERREIRA, Tiago. O que foi o movimento de eugenia no Brasil: tão absurdo que é difícil acreditar. In: Geledés. Disponível em: <https://www.geledes.org.br/o-que-foi-o-movimento-de-eugenia-no-brasil-tao-absurdo-que-e-dificil-acreditar/>. Publicado em: 16 jul. 2017.
LANG-STANTON. Peter & JACKSON, Steven. Eugenia: como movimento para criar seres humanos 'melhores' nos EUA influenciou Hitler. In: BBC Brasil. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/internacional-39625619>. Publicado em: 23 abr. 2017.
NETTO, Letícia Rodrigues Ferreira. Eugenia. In: Infoescola. Disponível em: <https://www.infoescola.com/genetica/eugenia/>.
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