Conheça a história dos "campos de concentração" que existiram no Brasil

Foto: "Campo de concentração" do Patu - créditos na imagem

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"Campo de Concentração" do Patu é um dos episódios tristes da história do Ceará e do Brasil. O local servia para confinar milhares de pessoas que tentavam fugir da seca no interior do estado. 

O primeiro "campo" surgiu em Fortaleza em 1915. Naquela época, a capital cearense tinha uma elite intelectual e de empresários que ainda se aproveitavam da explosão da exportação de algodão no século passado. 



Com esse crescimento, os retirantes da fome chegavam à cidade por conta da grande seca que aconteceu em 1877. Logo, o número de habitantes no região teve um boom, fazendo com que Fortaleza se tornasse à sétima maior população urbana no país entre os séculos XIX e XX. 

Primeiro e segundo "campos de concentração"


Para tentar resolver esta questão, apelou-se para medidas higienistas. O governador Benjamin Liberato Barroso construiu o primeiro "campo", chamado de Alagadiço, atualmente bairro de São Gerardo. 

O objetivo era abrigar esses retirantes e dando para eles condições dignas para sobrevivência e ele durou praticamente todo o ano de 1915 até ser fechado.



Entretanto, em 1932 outra estiagem aconteceu no Nordeste e sete "campos de concentração" foram criados em rotas de migração para impedir que as pessoas chegassem na capital. 

As outras cidades que recebiam os flagelados da seca além de Fortaleza eram: Crato, Senador Pompeu, Quixeramobim, Cariús e Ipu. 


Foto: Ruínas do pavilhão no "Campo de concentração" do Patu - créditos na imagem

Quem chegava nas estações de trem eram direcionados para os campos promessa de trabalho. Outra estratégia adotada era instalar os "campos" ao redor de alguma obra estrutural, pois assim atrairiam a mão-de-obra. Dessa forma, os retirantes eram forçados a trabalhar em obras públicas. 

Todos eram submetidos a condições de higiene precárias e acabam morrendo de fome, seca e também de doenças. Eles estavam tão à margem da sociedade que construíram um cemitério só para enterrá-los. 

Os "campos de concentração" no Ceará foram encerrados em 1933. Pela falta de registros oficiais, calcula-se que pelo menos 90.000 pessoas viviam em quatro dos sete campos em janeiro de 1933 e a estimativa é que entre 8 mil a 12 mil morreram e foram enterradas em valas coletivas.


Tombamento das ruínas 




O Ministério Público do Estado do Ceará firmou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com a Prefeitura de Senador Pompeu. Na última década, diversos pedidos de tombamento do Campo do Patu foram feitos, mas não foram adiante. 

Já em 2010, a prefeitura do município realizou o pedido de proteção que foi avaliado e em 2017 a Comissão de Patrimônio da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (Secult) oficializou a preservação provisória de pontos históricos do complexo. 

As ruínas tombadas reafirmam a existência dos "campos de concentração" criados no século passado no Ceará. A medida protege o que restou da estrutura de 12 casarões, a Vila Operária e as três casas de pólvora em Senador Pompeu.

Campos de concentração x Campos de extermínio


O termo "campo de concentração" ficou conhecido com a chegada dos nazistas ao poder na Alemanha em 1933. Entretanto, é importante ressaltar que o que existiu no Ceará era diferente do que tinha na Alemanha. 

Há a semelhança de exercer controle sobre uma determinada população, só que de acordo com historiadores, os "campos" do Ceará não tinham como objetivo exterminar quem vivia neles, apesar das condições insalubres que as pessoas eram submetidas ali. 



Fontes: 

ALBUQUERQUE, Carlos. A trágica história dos "campos de concentração" do Ceará. In: Deustche Welle. Disponível em: <https://www.dw.com/pt-br/a-tr%C3%A1gica-hist%C3%B3ria-dos-campos-de-concentra%C3%A7%C3%A3o-do-cear%C3%A1/a-49646665>. Publicado em: 20 jul. 2019.

NASCIMENTO, Thatiany. Campo de concentração onde 'flagelados da seca' eram aprisionados é tombado no Ceará. In: G1. Disponível em: <https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2019/07/20/campo-de-concentracao-onde-flagelados-da-seca-eram-aprisionados-e-tombado-no-ceara.ghtml>. Publicado em: 20 jul. 2019.

ROSSI, Marina. Quando a seca criou os 'campos de concentração' no sertão do Ceará. In: El País. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2019/01/08/politica/1546980554_464677.html>. Publicado em: 4 jul. 2019. 



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