Medo e 'fake news' marcaram campanha de vacinação contra varíola no Brasil Império
Imagem: Charge inglesa antivacina do século XIX - James Gillray/Anti-vaccine Society Print/Agência Senado
Não é de hoje que as fake news representam uma ameaça a saúde pública. No século XVIII o Brasil viveu um drama sanitário. A varíola, que hoje está erradicada no mundo, era o problema na época e mesmo com os governantes oferecendo vacina de forma gratuita as pessoas tinham medo.
Segundo documentos guardados no Arquivo do Senado, havia uma baixa adesão às campanhas de vacinação. Durante discurso, o senador João Rodrigues de Carvalho em 1826 afirmava que em Santa Catarina morria cerca de 2.000 pessoas. "Os povos estão no erro de que vacina não faz efeito. Quando o interesse público não se identifica particular, nada se resolve", conclui.
A doença era conhecida popularmente como "bexigas", já que se formava bolhas cheias de pus que se espalhavam pelo corpo. Em alguns casos, a varíola era mortal, mas quem sobrevivia ficava com cicatrizes profundas.
Alguns senadores começavam a debater sobre a proposta que autorizaria o governo a remanejar verbas do Orçamento público para a vacinação, o que foi aprovado.
Medo e fake news
Por não entender como a vacina funcionava, parte da população tinha medo. Um deles era de que a vacinação levaria a morte. Há boatos de que as mães escondiam as crianças e que famílias fugiam da cidade.
Além disso, os políticos acabavam caindo nas fake news e desinformação. O senador e médico Cruz Jobim questionava: "Para que caluniar a vacina com suposições falsas? Para que atribuir-lhe males que ela não produz? Pôr em dúvida a eficácia da descoberta de Jenner é destruir a confiança de tão útil preservativo e expor a vida de milhares de pessoas a um dos maiores flagelos, talvez o mais mortífero de quantos têm aparecido no mundo".
Contudo, vale ressaltar que o receio não era tão absurdo. Isso porque na época a ciência não conseguia explicar como a vacina funcionava, era desconhecido o vírus e o sistema imunológico.
Não atoa existia médicos que eram contra a vacinação. Um exemplo disso foi o médico português Heliodoro Carneiro que publicou em 1808 um livro que atacava a vacina, o que ajudou a disseminar o medo no Brasil Colônia.
Uma espécie de revolta da vacina aconteceu em uma cidade de Minas Gerais, em 1832, depois que folhetos começaram a circular dizendo que a intenção do presidente da Câmara Municipal era infectar e matar a população, que foram apedrejar a casa do político e quase linchá-lo.
Descobriu-se mais tarde que o responsável pela fake news foi um juiz da cidade, que era inimigo declarado do presidente da Câmara Municipal.
Dom João VI vacinou seus filhos antes de vir para o Brasil. A ideia consistia em mostrar para os súditos portugueses que se tratava de uma mentira que a vacina causaria varíola.
Ele conhecia de perto a doença por ter perdido dois irmãos, um genro e um filho, além da sua esposa, dona Carlota Joaquina, ter se contaminado e ficar com cicatrizes no rosto (o que explicaria a fama de feia).
Em 1811, Dom João VI criou a Junta de Instituição Vacínica da Corte, que faria a imunização em massa no Rio de Janeiro e se encarregaria em distribuir a vacina para as províncias.
Contudo, vale ressaltar que o receio não era tão absurdo. Isso porque na época a ciência não conseguia explicar como a vacina funcionava, era desconhecido o vírus e o sistema imunológico.
Não atoa existia médicos que eram contra a vacinação. Um exemplo disso foi o médico português Heliodoro Carneiro que publicou em 1808 um livro que atacava a vacina, o que ajudou a disseminar o medo no Brasil Colônia.
Uma espécie de revolta da vacina aconteceu em uma cidade de Minas Gerais, em 1832, depois que folhetos começaram a circular dizendo que a intenção do presidente da Câmara Municipal era infectar e matar a população, que foram apedrejar a casa do político e quase linchá-lo.
Descobriu-se mais tarde que o responsável pela fake news foi um juiz da cidade, que era inimigo declarado do presidente da Câmara Municipal.
Início da política pública de saúde
Dom João VI vacinou seus filhos antes de vir para o Brasil. A ideia consistia em mostrar para os súditos portugueses que se tratava de uma mentira que a vacina causaria varíola.
Ele conhecia de perto a doença por ter perdido dois irmãos, um genro e um filho, além da sua esposa, dona Carlota Joaquina, ter se contaminado e ficar com cicatrizes no rosto (o que explicaria a fama de feia).
Em 1811, Dom João VI criou a Junta de Instituição Vacínica da Corte, que faria a imunização em massa no Rio de Janeiro e se encarregaria em distribuir a vacina para as províncias.
Surgimento da vacina
Naquela época, a vacina era novidade. O médico Edward Jenner, em 1796, na Inglaterra, notou que os camponeses que ordenhavam vacas infectadas e pegavam varíola bovina (uma variação leve da doença) não tinham problemas com a varíola humana.
Jenner decidiu testar essa hipótese coletando pus das bolhas que estavam nas vacas doentes e colocar em cobaias humanas. O resultado foi que a varíola animal servia como uma espécie de protetor.
Além disso, o médico descobriu que quem era vacinado ficava com uma bolha no braço contendo o pus protetor contra a doença. Dessa forma, cada pessoa imunizada se tornaria automaticamente um produtor da vacina.
Isso levou a ideia de que após o indivíduo ser vacinado, ele retornaria para que a bolha fosse estourada e se coletasse o pus para injetar em outras pessoas. O processo ficou conhecido como "vacinação braço a braço".
Além disso, o médico descobriu que quem era vacinado ficava com uma bolha no braço contendo o pus protetor contra a doença. Dessa forma, cada pessoa imunizada se tornaria automaticamente um produtor da vacina.
Isso levou a ideia de que após o indivíduo ser vacinado, ele retornaria para que a bolha fosse estourada e se coletasse o pus para injetar em outras pessoas. O processo ficou conhecido como "vacinação braço a braço".
Dessa forma surgiu o nome "vacina", uma derivação da palavra "vacca". Por muito tempo, a varíola foi a única doença que tinha imunização e por isso falar de vacina estava atrelado a varíola.
Fonte:
WESTIN, Ricardo. Fake news sabotaram campanhas de vacinação na época do Império no Brasil. In: Agência Senado. Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/arquivo-s/fake-news-sabotaram-campanhas-de-vacinacao-na-epoca-do-imperio>. Disponível em: 7 out. 2019.
Fonte:
WESTIN, Ricardo. Fake news sabotaram campanhas de vacinação na época do Império no Brasil. In: Agência Senado. Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/arquivo-s/fake-news-sabotaram-campanhas-de-vacinacao-na-epoca-do-imperio>. Disponível em: 7 out. 2019.
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